terça-feira, março 31, 2015

Príncipe dos Lobos - romance de Rogério Prego



PREFÁCIO por Henrique Martins da Silva

Príncipe dos Lobos é uma boa dose de realidade que deve ser degustada com cautela, pois um marinheiro de primeira viagem pode se engasgar ao tentar tomar de uma só vez. É envolvente, é provocante! A reflexão é incitada ao mais alto nível e os “fantasmas sociais” aparecem. Tudo aquilo que a sociedade considerou sujo, feio, impróprio, imoral, inferior, detestável, ou seja, fora dos seus padrões e interesses ou até mesmo “ameaçador à sua ordem”, tudo o que foi obscurecido, (re) surge. É um romance forte e frisante! Indicado para aqueles com espírito livre e com sede para descobrir o que está por trás das relações, das pessoas e dos lugares. “O admirável gado novo” faz parte dessa trama. É assim que os trabalhadores oprimidos e indivíduos marginalizados socialmente aparecem no livro. É assim que a banda toca! A droga, a prostituta da esquina são semblantes de um mundo perverso. O autor possui uma análise muito densa e crítica, o que instiga mais ainda o leitor, ele vai direto à veia do problema, não há rodeios...

Príncipe dos Lobos apresenta uma narrativa real, chocante e perversa no que tange o mundo das relações humanas. A trama se desenvolve a partir das aventuras e devaneios do personagem Robinson, primeiramente quando criança e depois na fase adulta. Trata-se de um jovem que advindo de uma situação miserável e com vários problemas, inclusive familiares, aprende a queimar as chamadas “pedras mágicas” como forma de sucumbir o sofrimento e talvez preencher o vazio da própria alma, pelo menos por alguns intervalos de tempo. Não é fácil, Robinson tem uma vida muito conturbada, “vive entre lobos” e é atormentado por fantasmas que são seus próprios medos, limitações e tragédias. É o retrato de um personagem vazio praticando o individualismo no caminho das pedras.

Por intermédio de um traficante e cafetão, conhecido por Draco, conhece e se apaixona por uma prostituta chamada Beatriz que o faz mudar drasticamente, abandonando o vício. Como a raposa, ela é perspicaz — sabe jogar — o influencia dizendo: “As pedras valem muito dinheiro e você as queima, seu estúpido!”. As pedras são preciosas, o recado de Beatriz fora entendido. Robinson aprendeu ainda na escola uma dança diferente, o Breakstyle que despertou a simpatia de Draco, salvando-o da morte e do abismo existencial. É quase paradoxal — “o cordeiro DANÇA entre lobos”.

A figura do lobo pode representar muitas coisas e, por isso, é apresentada de forma muito ampla no livro, surpreendendo o leitor. É como se a palavra lobo, fosse uma expressão psicanalítica para lidar com a ausência, os medos e todo o mal banalizado e repreendido. Robinson descobrira através de Draco, que os lobos são temidos, pois carregam o semblante das ruas. Todavia, desde a infância já era cercado por lobos que o dilaceravam juntamente com sua mãe, Edileusa.

Neste ambiente insalubre de relações, afundado nas drogas e vivendo nas ruas, restava a Robinson ter ainda um pouco de dignidade, dominar seus medos, traçar objetivos e cumprir a promessa que fez à mãe de dar-lhe uma vida melhor. O cordeiro tem que legislar no mundo dos lobos para ser príncipe, ou melhor, Príncipe Lobo. As pedras que antes eram queimadas passam a ser vendidas — torna-se um negócio lucrativo, capitalista. A ideia de possuir Beatriz o incentivou, estava disposto a enfrentar até mesmo Draco, quem o acolheu. O Príncipe Lobo deveria ser respeitado e temido, mas isso não o torna um vencedor. Pelo contrário, talvez seja sua própria ruína, pois o cordeiro pode até acreditar que é um lobo, porém não deixa de ser um cordeiro.

Robinson é o protagonista, entretanto, Beatriz toma a cena. Ora, o cordeiro realmente gostava dela — talvez ela representasse sua redenção. Robinson quer viver como um príncipe ao lado de sua princesa-meretriz. Mas isso não é tão fácil por causa dos obstáculos que aparecem. As pedras não são suficientes para diminuir sua agonia, seus desejos não têm limites e suas atitudes não medem as consequências. Ele está sem controle, joga o jogo de Beatriz — ela o seduz e o engana. O cordeiro fica entre o céu e o inferno — os lobos estão à espreita.

Beatriz, sagazmente, ensina tudo o que Robinson tem que fazer para que possam ficar juntos. O Príncipe Lobo agora está pronto, começa a caçada. Para alcançar seus objetivos está disposto a matar quem estiver em seu caminho e de sua pretendida. O cordeiro não é mais o mesmo, torna-se determinado, toma aspectos de um lobo e quer mostrar que pode ser um deles, ou melhor, o príncipe deles.

O romance de Rogério Prego é uma denúncia social, mostra que “os lobos” não estão somente nas ruas, podem estar mais perto do que se imagina, até dentro de nossa família. Esses lobos estão por toda a parte e se atracam na disputa por poder ou espaço. É um livro que questiona e confronta a imagem do que está além do bem e do mal, transmitida principalmente pelos veículos de comunicação. Não há soluções imediatas, pois um problema leva a outro e, por conseguinte, em direção a uma raiz muito mais profunda do que se imagina.

Nesse sentido, o autor foi bastante feliz em seu propósito, uma vez que não nos apresenta respostas prontas, mas sim um campo de possibilidades para que o leitor indague e tire suas próprias conclusões. Afinal, toda a obra é uma grande crítica social e comportamental. É um tipo de realismo fantástico que faz o leitor refletir e ensimesmar-se, pois querendo ou não, alguma parte da obra irá lhe despertar uma identificação ou familiarização pessoal. É um romance que vale a pena conferir. Está acima das expectativas que possam ser despertadas neste prefácio. Real, Intrigante, Envolvente! Só lendo para saber o que acontece com Robinson nessa aventura dantesca no mundo dos homens-lobo.

— Henrique Martins da Silva (FH/ UFG)

Link do Livro:

 ROGÉRIO PREGO nasceu em 1981 em Goiânia - Goiás. Formado em História pela UFG. É o autor de Meu Sagrado Reino da Escuridão, publicação em que apresenta os seus primeiros escritos. Príncipe dos Lobos é o seu primeiro romance publicado. Em breve, publicará o seu segundo romance: Loteria da Babilônia – Em busca da aventura particular.

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